A recente pandemia provocada pelo covid-19, veio pôr o mundo da moda em alvoroço. Desfiles cancelados, coleções adiadas e produções interrompidas para passarem a produzir máscaras individuais de proteção. Este volte-face inesperado levou, inevitavelmente, a que o sector da moda em constante crescimento nas últimas duas décadas, tivesse de repensar estratégias e ações para o futuro.
Por depender em grande parte do canal físico (o mercado tradicional) como distribuidor, o cluster do calçado português, sofreu um decréscimo avassalador do número de vendas, em que lojas de rua e shoppings fechados impossibilitaram vendas e o normal funcionamento do comércio. A agravar esta situação, a crescente desconfiança no futuro por parte dos consumidores, levou à adoção de uma atitude de compra mais refletida e preventiva. Na presença de uma pandemia passamos a comprar sobretudo bens de primeira necessidade, o que atingiu fortemente as marcas de moda e todos os seus stakeholders.
Todos ouvimos nas notícias que as vendas online dispararam, mas não necessariamente para o sector da moda de calçado. Afinal de contas, quem comprou calçado para ficar em confinamento dentro de casa?
O confinamento serviu, em muitos casos, para que as pessoas passarem mais tempo com a sua família direta e para refletirem naquilo que é realmente importante nas suas vidas. A paragem nas nossas rotinas aceleradas fez-nos também repensar no desenfreado ritmo de compras que fazemos sem pensar, e na qualidade dos produtos que consumimos. Faz assim tanto sentido, comprar o casaco da loja fast fashion (super barato mas feito a custo de mão de obra precária)? Ou passar na loja de rua onde posso encontrar produção nacional, de qualidade e que apoia a economia local? Falamos de moda, mas esta mentalidade é extensível a qualquer área.
O covid-19 forçou a pessoas de todo o mundo à revisão dos seus valores, aos seus hábitos de vida e de consumo, e isso fez com que olhem para o mundo da moda com um novo olhar, mais critico em relação às tendências e às atitudes das marcas.
Mas se as pessoas que compram mudaram, é expectável que as marcas acompanhem esta evolução dos seus consumidores. Mas então qual o futuro da moda? Como irão as marcas reagir ao pós-pandemia? Que mudanças se podem esperar?
Em relação à moda, é previsível que a compra por impulso tenha um decréscimo acentuado, a procura pela ostentação de marcas internacionais sem aparente valor social, e o próprio prazer na compra serão reconsiderados pelos consumidores, e já se começam a notar algumas tendências no consumo.
As crescentes preocupações ambientais e o aumento da consciência social que têm crescido na última década, vão acentuar-se exponencialmente e os consumidores estarão cada vez mais atentos ao altruísmo das marcas em contribuírem para a preservação do planeta. Mais do que fashion, as marcas de moda terão de adotar um papel ativo na construção de um mundo melhor e mais sustentável. Porque os produtos passarão a falar mais do que de moda e tendências, para serem verdadeiros manifestos de mentalidades e estilos de vida.
As marcas que até então lançavam quatro ou mais coleções anuais, terão necessariamente de abrandar o ritmo e abandonar o fast fashion. Não fará sentido continuar a fazer mais de duas coleções por ano, só para responder ao ritmo desenfreado das velozes tendências. Serão necessários novos cuidados em toda a cadeia de desenvolvimento e produção de coleções, esperando-se um sortido menos abrangente e com mais qualidade nos materiais para que cada modelo se torne mais duradouro.
As marcas que não evoluírem as suas cadeias de produção segundo os novos valores sociais e ambientais estarão apenas a vender roupa, calçado ou acessórios sem sentido, e cedo os consumidores perceberão isso mesmo. E nesse momento será já muito difícil de os convencer o do contrário. A moda terá de ser transparente e coerente com a sua nova mensagem, isto é, adotar políticas sociais e ecológicas corretas e implementa-las na sua integra. As pessoas vão procurar mais o que é feito dentro de portas, pois entenderão que só assim também elas poderão ter um papel ativo na recuperação económica do seu país. Mas isto leva o seu tempo. Serão necessárias ações de sensibilização e de promoção do Made in Portugal por parte das entidades governamentais, e dos clusters da moda e do calçado.
A moda seguirá cada vez mais o caminho do casual e do conforto, como um complemento para a agitação do dia-a-dia. Todos nós precisamos entender que a moda não é apenas uma vaidade. A moda, ainda que o seja, transcende a ostentação. A moda é responsável pela expressão da criatividade e de identidade de muitos profissionais e dos consumidores que se identificam com as suas criações. É um manifesto de liberdade essencial à humanidade.
É também responsável pelo sustento de milhares de famílias em Portugal que, de outra forma, não têm meio de subsistência. Não falamos apenas dos produtores fabris, distribuidores e comerciantes, falamos também dos profissionais de comunicação, revistas, editores, pessoas que trabalham e dependem da organização de eventos, fotógrafos, maquilhadores, entre outros. O sector da moda é o que mais mulheres emprega em todo o mundo, dele dependem cerca de 10 milhões de pessoas.
Estarão as marcas portuguesas preparadas para esta nova fase, que certamente veio para ficar?
Na MLV queremos acreditar que sim, e também nós queremos ter um papel ativo na sustentabilidade, na luta contra o desperdício e no estímulo da consciência social e ambiental. Queremos também fazer parte da revolução da cultura do consumo, onde os produtos de qualidade acrescida que incentivam a economia local são o novo fashion hit.
Os clientes MLV que adquiriram este verão produtos na loja online da MLV Shoes comprovaram esta nossa causa. Com os materiais excedentes do desenvolvimento de coleções anteriores, foram criadas tapa máscaras e pequenas bolsas onde poderão guardar as suas máscaras ou outros pertences.
Um pequeno gesto, bem sabemos, mas de pequenos passos se fazem longas caminhadas.
Na MLV estamos no bom caminho, contamos consigo!